A paralisação anunciada por entidades de caminhoneiros para esta segunda-feira (1º) não teve força e, novamente, foram registradas apenas manifestações pontuais e isoladas, como nas outras tentativas de protesto que ocorreram neste ano.
Ao longo de todo o dia, rodovias federais e portos estratégicos para a logística do país operaram sem interrupções, de acordo com levantamento da PRF (Polícia Rodoviária Federal) divulgado pelo Ministério da Infraestrutura.
Ao longo do dia, o trânsito fluiu normalmente nas rodovias federais. Pela manhã, a PRF chegou a identificar dois pontos de concentração de caminhoneiro: um na BR-116, na altura de Barra Mansa (RJ), e outro na BR-101, em Rio Bonito (RJ). No entanto, não foram registrados bloqueios parcial ou total.
Postos de combustível e pontos de parada de caminhoneiros também não tinham atos ou movimentos grevistas em quatro das principais estradas que passam por São Paulo.
A Folha percorreu as rodovias Presidente Dutra (que liga a capital paulista ao Rio de Janeiro), no trecho São Paulo-Taubaté (130km); Anhanguera, no trecho Campinas-São Paulo (97 km); Dom Pedro 1º, no sentido Jacareí-Campinas (140 km); e Fernão Dias, que liga a São Paulo a Belo Horizonte, no trecho Atibaia-São Paulo (60 km). Em nenhuma havia protestos.
Um caminhoneiro que foi do Rio de Janeiro a São José dos Campos (SP) afirmou que não viu nenhum movimento no trajeto, e que seguiria viagem normalmente até São Paulo.
Para Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística), umas das entidades que convocaram a paralisação, decisões judiciais que proibiram o bloqueio de rodovias são a causa da baixa adesão da categoria.
Segundo ele, o medo das multas inibiu a mobilização. "Nós estamos com interdito proibitório, não pode botar o pé na pista sob pena de [ter que pagar] R$ 100 mil", afirma.
No último sábado (30), a Justiça proibiu o bloqueio de estradas em diversos estados, com multas que variam de R$ 5.000 a R$ 1 milhão para pessoas físicas e jurídicas que descumprirem a ordem.
"Coragem para trancar a pista não nos falta, o que falta é dinheiro para pagar a indenização que eles querem cobrar", diz o diretor.
No início da tarde desta segunda, a CNTTL tinha contabilizado protestos em cinco localidades: nos portos de Santos, Salvador e Ijuí (RS), e nas cidades de Volta Redonda (RJ) e São José dos Pinhais (PR).
Mesmo sem bloqueios nas rodovias, Dahmer avalia que o primeiro dia de paralisação foi bastante positivo. Segundo ele, os caminhoneiros autônomos não fecharam as estradas, mas pararam em casa.
"Nós estamos aqui no entroncamento da BR-285 com a BR-342, no Rio Grande do Sul, que é o segundo maior entroncamento do estado. Eu te asseguro que 90% dos caminhoneiros autônomos pararam, os que estão rodando aqui são [caminhoneiros] de empresas."
Durante a madrugada, manifestantes chegaram a ocupar uma região perto do porto de Santos (SP), mas foram dispersados pela Polícia Militar, que chegou a usar bombas de efeito moral. Os caminhoneiros reclamaram da ação. Uma liminar proibia que o acesso ao porto fosse barrado.
Os policiais também impediram que os caminhoneiros se manifestassem, proibindo mesmo palavras de ordem. "Permaneçam parados, sem verbalizar", disse o policial aos motoristas nas imediações do porto.
Procurada, a Polícia Militar de São Paulo não havia se manifestado até a conclusão desta reportagem.
No Twitter, o Ministério da Infraestrutura publicou um vídeo que mostra uma pessoa arremessando pedras em caminhoneiros que trafegavam pela via. Segundo a pasta, os atos foram registrados após a polícia dispersar os manifestantes.
"Criminosos lançaram pedras em veículos que transitavam e danificaram um carro guincho da concessionária Ecovias", diz a publicação.
Por email, a Ecovias disse que o parabrisa do veículo foi atingido por uma pedra por volta de 0h30, no km 62 da Via Anchieta, sentido Santos. De acordo com a companhia, o funcionário que dirigia o veículo não se feriu, e um boletim de ocorrência foi feito para apurar o caso.
A paralisação foi anunciada no último dia 16, após assembleia organizada por três entidades representativas. Os caminhoneiros reivindicam a revisão da política de preços para os combustíveis, o cumprimento do piso mínimo do frete e aposentadoria especial a partir de 25 anos de contribuição.
A principal reclamação da categoria, porém, é em relação ao valor do diesel, que acumula alta de 65% desde o início do ano.
Nesta segunda (1º), durante entrevista a jornalistas na Itália, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o governo federal não tem interesse nos dividendos recebidos pelo lucros da Petrobras e que conversa com a equipe econômica para que esses recursos sejam revertidos para abater o preço do diesel.
Bolsonaro disse, ainda, que recebeu informações extraoficiais de que, em 20 dias, a estatal promoverá um novo reajuste nos preços dos combustíveis, e alertou que isso não pode acontecer.