19 de Novembro de 2021 Sem categoria

Com falta de produtos, comércio recomenda que consumidores antecipem compras de Natal para garantir preço, opções e entrega



Além da inflação de dois dígitos e da alta do dólar, que já têm encarecido itens e encolhido o poder de compra dos brasileiros, outros fatores estruturais podem entrar na conta e elevar ainda mais os preços dos produtos neste fim de ano. Questões de logística, como a falta de contêineres para trazer itens do Exterior, e a falta de microchips para a fabricação de eletrônicos podem tornar o Natal mais caro.


— Nossa sugestão é que os consumidores tentem antecipar as compras de Natal para poder escolher melhor os produtos, com modelos e tamanhos. Agora ainda tem, dá para escolher com calma, mas no Natal pode ser que tenha que procurar alternativas — aconselha Sergio Galbinski, presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). 


Os problemas na cadeia de abastecimento foram sentidos de maneira global durante a pandemia de covid-19. Produção menor por conta de mão de obra reduzida e transporte marítimo de carga limitado foram alguns dos fatores que contribuíram para a escassez de produtos em diversos segmentos e países. Agora, com a demanda sendo recuperada pelo retorno das atividades econômicas, o setor logístico enfrenta o desafio de caminhar no mesmo ritmo. 


Gargalo logístico

A escassez de contêineres para o translado de mercadorias é um dos principais problemas e afeta produtores do mundo todo. Uma das explicações é a alta demanda concentrada nos grandes portos exportadores, nos Estados Unidos e em países asiáticos e europeus, que deixam de fora as rotas consideradas não tão rentáveis, como seria o caso do Brasil.  


Segundo Wagner Rodrigo Cruz de Souza, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC), a estimativa para que a situação volte à normalidade é de pelo menos dois anos.  


— A quantidade de equipamentos disponíveis para atender a demanda não está no mesmo ritmo. Vários portos ao redor do mundo chegaram a paralisar em 2020, e isso ocasionou retenção de contêineres e de embarcações. Tirou do compasso o ritmo do comércio exterior —explica.


Souza cita como exemplo Santos, principal porto brasileiro, onde o volume de contêineres exportados neste ano está 20% superior ao ano passado. Como o mundo todo está demandando embarcações para conseguir escoar seus produtos, não há disponibilidade para colocar tudo em rotas marítimas. 


Isso tudo faz com que encareça o preço do frete — alta que, lá na frente, respinga no valor final dos produtos. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o valor do frete, em dólar, de um contêiner que venha da Ásia aumentou 446% entre janeiro de 2020 e setembro de 2021. A alta chega a passar de 500% quando se trata de exportação. 


Reflexo no varejo

Além do aumento do frete, outro reflexo no Brasil é a demora ou até o cancelamento das entregas. Fretes que antes custavam US$ 1 mil, hoje estão chegando a quase US$ 20 mil, conforme o diretor da ABTTC. Por isso, faltar produtos pontuais e subir preços são um risco real até que as coisas se estabilizem, embora a falta de mercadorias não deva ser generalizada.  


— Algumas mercadorias já estavam encomendadas e os lojistas têm que mandar vir, mesmo com custo alto. Está difícil, mas acaba vindo. O problema é o depois. O empresário vai ter que decidir se vende essa mercadoria sem lucro ou se vai conseguir colocar no preço. Mas com inflação e com o poder aquisitivo menor, vai ficar complicado — diz Galbinski. 


Na avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), Claudio Felisoni de Angelo, chr38ldquo;não terá como não passar para o preçochr38rdquo;. Segundo ele, a maior liquidez na demanda (por meio da injeção de recursos para estimular o consumo) e a desorganização nas cadeiras produtivas e de abastecimento colaboram para um cenário de preços mais altos e escassez de alguns produtos. Por isso, o consumidor pode se preparar, sim, para falta de produtos em relação ao ano passado e para presentes mais caros.


— Fazendo uma analogia: é um organismo vivo. Se você fica muito tempo sem fazer ginástica, na hora em que volta, não volta imediatamente. Assim também acontece com os processos de recuperação. Sem dúvida, vem mais um Natal difícil. Melhor do que foi em 2020, mas ainda pior do que foi em 2019 — projeta Felisoni. 


Componentes em falta

Outra escassez no radar é a dos microchips, ou semicondutores, que atinge desde montadoras de veículos a fabricantes de eletrônicos em geral. A falta do implemento, que também é global, pôde ser sentida aqui perto, na produção da GM. A fábrica de Gravataí ficou cinco meses paralisada em razão da falta de chips. Cerca de 200 mil veículos deixaram de ser produzidos nas unidades da montadora no país que ficaram fechadas. 


Conforme sondagem da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), em setembro, as dificuldades na aquisição de semicondutores foram relatadas por 67% das empresas entrevistadas que utilizam os componentes na produção. Outros 25% informaram que seus fornecedores não passaram previsão de normalidade no abastecimento de componentes semicondutores. Dentre essas, a maior parte (48%) acredita que a normalidade da situação será resolvida somente ao longo de 2022. 


O presidente da Abinee, Humberto Barbato, avalia que, apesar da escassez ainda presente, nos últimos meses tem havido uma melhora. Na sua avaliação, a pandemia evidenciou que o mundo estava vulnerável à produção de semicondutores, muito dependente da produção dos países da Ásia. Isso está fazendo com que tanto Estados Unidos quanto União Europeia venham tomando providências para diminuir o nível de vulnerabilidade. No Brasil, umas das ações discutidas é a renovação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Indústria de Semicondutores, que vencmeria em janeiro do próximo ano. O programa viabiliza a produção através de incentivo fiscal. 


Barbato, porém, não acredita que os preços nos produtos devam continuar subindo, porque os aumentos já ocorreram desde o ano passado, incorporando também a correção de custos. Também não crê que ocorra desabastecimento, pelo menos no seu setor.  


— O produto eletroeletrônico tem diversos fabricantes e em muitos modelos. Existe uma gama de produtos muito grande e sempre pode-se encontrar um similar. Não chega ao meu conhecimento que está faltando. Pode demorar mais para chegar uma encomenda, mas não que não vá ter — diz. 

ABTTC News

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