O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, criticou o interesse do Uruguai em defender a negociação de um acordo de livre comércio com a China à margem do Mercosul.
Ao comentar o assunto, que foi um dos destaques na reunião de cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) realizada na terça-feira (23) em Buenos Aires, e também na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Uruguai, nesta quarta-feira, ele disse esperar que “o Uruguai tenha juízo e não venha a firmar esse acordo que não lhe beneficiaria diretamente e ainda prejudicaria indiretamente os demais membros do bloco do Cone Sul.
Em suas críticas à iniciativa anunciada pelo presidente uruguaio, Lacalle Pou, o executivo da AEB afirmou que “não podemos brincar de trazer o nosso adversário (a China) para perto, porque se nós tivéssemos condições de controlá-lo seria bom, mas estando aqui perto ele vai ser incontrolável. Então, temos claramente que buscar as nossas condições de negociação com a China mas em circunstâncias diferentes e não através do Uruguai”.
Na percepção de José Augusto de Castro, “um acordo entre o Uruguai e a China causará prejuízos em dois momentos diferentes. Primeiro ao Uruguai. Um acordo com os chineses não vai aumentar as exportações uruguaias, porque o país vai continuar exportando os mesmos produtos e com apenas um mercado, a China. E se ficar dependendo apenas do mercado chinês, num primeiro momento a China pode adotar uma política de boa vizinhança para tentar agradar ao Uruguai. Entretanto, num segundo momento, depois do acordo ser firmado, a China vai impor as suas regras do jogo, que nós sabemos que não são muito boas”.
Ele destacou também outro aspecto relevante e que se refere ao fato de um acordo entre o Uruguai e a China atingir diretamente o Mercosul, e assinalou que “no fundo, o Uruguai estará trazendo para próximo do Mercosul o primeiro mercado importador mundial de commodities, produtos que o Brasil, a Argentina, Paraguai e o próprio Uruguai vendem ao mundo”.
Além disso, esse hipotético acordo comercial criaria um problema político e econômico, conforme afirma o presidente da AEB: “problema político porque vai efetivamente rachar o Mercosul, uma fresta que pode desestruturar o bloco. No plano econômico, não vejo nenhuma vantagem par o Uruguai com a assinatura desse acordo. Seja indiretamente com o Mercosul ou diretamente com a China. Acho que com essa iniciativa, o Uruguai está querendo mostrar independência. Mas será uma independência cara. Na verdade, não seria uma independência, mas sim uma dependência da China”.
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