02 de Setembro de 2021 Sem categoria

Crise Global no Transportes Marítimo

Nas últimas semanas o setor se deparou com a ocorrência de alguns problemas operacionais, tais como: omissão e/ou atrasos de escalas de navios; falta de janelas de agendamento para a entrega de contêineres cheios; indisponibilidade de contêineres vazios para liberação de exportação, especialmente no padrão alimento e negativa de bookings adicionais relacionados a aumento de frete. 



Além destas ocorrências, é de amplo conhecimento que as exportações brasileiras, sobretudo de commodities, estão atravessando um momento turbulento para abastecerem o mercado internacional com os seus produtos. Após atravessarmos um período de pandemia com o registro de sucessivos recordes nas exportações nacionais, o produtor nacional iniciou 2021 enfrentando dificuldades para escoar a sua produção, pois com o reaquecimento da economia mundial, estes embarcadores passaram a competir fretes marítimos com economias mais rentáveis, além da alta retenção de contêineres com cargas e o atraso de navios ocasionado por congestionamento em alguns portos. 



Todo este cenário sem precedentes acarretou numa redução na oferta de navios e equipamentos (contêineres) para atender o Brasil e os principais mercados consumidores de nossas commodities, causando reflexos negativos e gargalos na cadeia logística de movimentação de cargas de exportação, especialmente aquelas ligadas a safra de commodities, as quais tem um grande volume de embarques. 



Diante deste quadro, e de forma a melhor orientar os nossos associados com o cenário que está por vir, nossa entidade “ABTTC”, através de sua Diretoria, manteve reuniões virtuais e presenciais com os principais armadores que atuam no Porto de Santos e suas entidades representativas em busca de informações, esclarecimentos e até mesmo planejamentos estratégicos em andamento no sentido de mitigar estes gargalos e seus reflexos negativos, com uma expectativa de tempo para a normalização do mercado, a fim de subsidiar nossos associados na tomada de decisões, permitindo que possam fazer uma melhor gestão e otimização de suas infraestruturas e atividades neste momento conturbado. Também foram realizados contatos com as principais associações representativas dos exportadores.



No contato com os armadores obtivemos informações que a ocorrência de atrasos nas linhas por conta de retenção das embarcações em outros portos afetou de forma significativa a frequência destas linhas no Porto de Santos, resultando em linhas que tinham frequência semanal, passando a serem atendidas a cada 10, 11 ou 12 dias, ocasionando em um significativo volume de cargas destinadas à exportação retidas no Porto de Santos por conta da rolagem de navios, situação que levou alguns armadores a bloquear a liberação de novos bookings até que a situação fosse normalizada, destacando que a disponibilidade de janelas nos Operadores Portuários para o recebimento de contêineres cheios está diretamente relacionada a disponibilidade de espaço físico e de condições de continuidade de um escoamento regular dos contêineres já depositados.



Explicaram ainda que em 2020 não foi registrado problemas com a liberação de vazios ou falta de espaço nos navios pois enquanto o mundo estava parado o Brasil continuou exportando fortemente, este movimento possibilitou até a colocação de mais embarcações nas linhas que atendem o Porto de Santos, porém em 2021, devido ao mercado mundial estar aquecido, hoje praticamente não há previsão de extra loader para atender as exportações brasileiras.



Historicamente o mau tempo também é um complicador nesta época do ano, pois a ocorrência de passagens de frentes frias recorrentes acaba interferindo na navegação e na manobra de navios, resultando na omissão de portos, sobretudo no sul do Brasil, Uruguai e Argentina, interferindo diretamente na regularidade semanal de escalas buscada pelo Armador. 



As linhas de navegação também têm sofrido com a imprevisibilidade dos exportadores quanto a demanda de cargas a embarcar ao longo do ano, além do excesso de bookings fantasmas gerados pelos próprios exportadores, que erroneamente visando ter a garantia de embarque da sua carga solicita inúmeros pedidos de booking para a mesma carga, fazendo com que algumas embarcações seguissem viagem sem a plena capacidade ter sido atingida.



A atuação de alguns órgãos anuentes também foi mencionada, tais como a atuação da ANVISA, que paralisa a embarcação por até 14 dias em casos em que é detectado a contaminação por COVID-19 em um dos membros da tripulação, até mesmo a recente norma do MAPA-SC que determina o prazo de 10 dias úteis para analisar documentação referente o embarque de madeiras, medidas como estas afetam diretamente a disponibilidade de navios e equipamentos para atender aos exportadores e aos importadores.



Outro ponto abordado foi a baixa disponibilidade de contêineres vazios para a exportação, que devido aos atuais gargalos logísticos na maioria das rotas marítimas mundiais, tem causado um desbalanceamento maior do que o normal no fluxo de contêineres ao redor do mundo, sendo este problema agravado quando o contêiner demandado é o de 20 pés no padrão alimento, que por si só já requisita um tratamento especial pelo armador (upgrade) para que apresente condições normais de ser utilizado, demandando entre 7 a 10 dias entre a descarga e a sua prontidão para liberação nos Depots.



Há entre os armadores consultados uma grande preocupação quanto ao Golden Week, tradicional feriado Chinês de 7 a 8 dias, iniciando em 1º de outubro, onde todas as atividades são interrompidas, gerando uma nova pressão na cadeia logística global, que será sentida pelos exportadores e importadores em 30 a 45 dias após a semana festiva.



Todos os armadores consultados foram unanimes em comentar que a partir de janeiro/2022 seja percebida uma leve melhora no cenário logístico, podendo a situação ser equacionada de fato até o fim do segundo semestre de 2022, desde que ocorram algumas transformações no mercado exportador brasileiro.



Em contato com as principais associações de exportadores fomos informados que todas as tradings companies estão acompanhando o cenário e os seus desdobramentos. Por outro lado, os importadores de commodities brasileiras tem mantido um constante contato com os transportadores marítimos, assim como tem avaliado melhores opções para o embarque das mercadorias ou até mesmo o armazenamento destas cargas até que esta crise seja superada.



Também é importante destacar que antevendo que a manutenção deste cenário nos próximos meses impactará diretamente o atendimento às condições para a manutenção da habilitação dos Terminais REDEX, sobretudo no Porto de Santos, a ABTTC estabelecerá discussões com os órgãos aduaneiros com o objetivo de aprimorar estes regramentos, de forma a minimizar os impactos gerados por problemas alheios a gestão do Terminal REDEX, principalmente quanto a realização média de 60 (sessenta) despachos de exportação por mês.

 

ABTTC News

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