Movimento da elite do funcionalismo federal, com operação-padrão, preocupa indústria por risco ao abastecimento; governador de Roraima já apela ao ministro da Economia
A mobilização da elite do funcionalismo público por melhores salários começa a provocar os primeiros efeitos reais, com filas que podem prejudicar o abastecimento de produtos no Brasil. Em São Paulo, no Porto de Santos, a liberação de trigo vindo da Argentina está atrasada e já causa preocupação no setor. No Norte, segundo o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), 800 caminhões, carregados com diferentes tipos de produto, ficaram parados ontem na fronteira.
A atenção está voltada à operação padrão adotada pelos auditores da Receita Federal desde o dia 23, para pressionar o governo federal a regulamentar o pagamento de um "bônus de eficiência" à categoria. O protesto por reajuste já se estendeu pelas carreiras do Banco Central (BC) e também chegou aos auditores do Trabalho, que afirmam que vão entregar cargos de confiança. Uma paralisação está marcada para o dia 18 deste mês e indicativo de greve geral para fevereiro.
“Se as liberações não forem feitas rapidamente, como de rotina, pode acarretar um problema de abastecimento”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa.
Segundo informações repassadas pelo Ministério da Agricultura à entidade, o problema em Santos envolve a carga de dois navios. Uma delas desembarcou no último dia 2, mas ainda não foi liberada em função da operação padrão. Agora, o espaço físico ocupado pelo carregamento impede o descarregamento de outra embarcação.
O presidente da Abitrigo, que já ocupou o cargo de embaixador do Brasil em Washington (EUA), ressaltou a importância do produto e a necessidade de o problema ser resolvido. “Esse é um produto essencial na mesa do brasileiro, usado no pão, nas massas, bolo, biscoito”, afirmou Barbosa. Procurado, o Ministério da Agricultura não respondeu à reportagem até a publicação. Já a Receita Federal ainda buscava informações sobre a situação em Santos.
No caso do trigo, segundo apurou o Estadão/Broadcast, o envolvimento com o despacho da carga passaria tanto por auditores da Receita Federal como pelos fiscais federais agropecuários, que também iniciaram uma operação padrão em dezembro. Nesse modo, os auditores passam a ser mais rigorosos nos procedimentos, o que atrasa análises e dificulta despachos. A operação padrão foi adotada para pressionar o governo federal a regulamentar o pagamento de um "bônus de eficiência" à categoria.
Procurada, a Santos Port Authority (SPA), que administra o porto, afirmou que Santos opera dentro da normalidade em seus acessos públicos. A companhia afirmou que as atracações e embarques e desembarques dependem de vários fatores. “Assim, não é possível dar como causa de eventual atraso de exportação ou importação a anuência das autoridades locais (da qual a Receita Federal faz parte).”, afirmou a SPA.
Segundo a companhia, havia ontem dois navios com carga de trigo no Porto de Santos, ambos com capacidade de 17,5 mil toneladas cada. Um estava atracado e outro tinha atracação prevista para ontem à noite.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), Paulo Menegueli, acredita que a situação será resolvida de forma rápida e não haverá desabastecimento do insumo, essencial para a indústria. A reportagem também procurou outras associações que representam o setor, como Sindipan e Aipesp, mas não obteve retorno.
Fronteiras
No Norte, o governador de Roraima afirmou ter conversado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para ajudar nas negociações para encerrar o movimento de paralisação dos auditores.
Circula em grupos de auditores um vídeo com cerca de 200 caminhões na fila da alfândega em Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela. Ontem à noite, a Receita informou, por meio de nota, que os caminhões começaram a ser liberados na cidade.
Segundo o governador, o número de carretas paradas na região chega a 800, incluindo as que estão na capital Boa Vista e em Manaus. “Falei com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que está sensibilizado com essa situação e também com o chefe geral da Receita em Brasília, Julio Cesar Viera Gomes. Estão abertas as negociações para o reconhecimento do bônus salarial de todos os auditores da Receita”, afirmou.
Procurado, o Ministério da Economia negou que Guedes tenha conversado com o governador Antonio Denarium e o secretário especial da Receita Federal, Júlio Vieira, sobre reajuste do funcionalismo. "O ministro limitou-se a repassar as mensagens do governador ao secretário para colocá-los em contato sobre o assunto de Pacaraima", disse o ministério em nota, que ressalta que o ministro está em férias até 7 de janeiro.
O governador disse apoiar tanto os caminhoneiros como a necessidade de reposição salarial dos auditores fiscais. “O governo do Estado está preocupado com a situação e estamos reunidos com os delegados da Receita Federal em Boa Vista, com o Sindifisco e com as empresas transportadoras. Trabalhamos em uma negociação para a abertura de nossas fronteiras para as exportações”, completou.
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