08 de Agosto de 2023 Geral

Globo Rural: Pesquisa revela que 61% dos produtores de grãos não têm armazenagem nas fazendas

Estudo realizado pela Esalq Log/CNA apontou que 72,7% dos produtores sem estruturas mostram interesse em construir silos e armazéns, desde que tenham uma taxa atrativa de juros

Uma pesquisa inédita revela que faltam estruturas em 61% das fazendas para armazenar a produção de grãos do país, que bate recordes todos os anos e representa a maior receita das exportações do agronegócio, com quase 40%.

O restante das fazendas (38,9%) possui algum tipo de armazém, sendo que 19,8% possuem silo (convencional ou graneleiro), 9,2% têm também silo bolsa para complementar e 9,9% utilizam apenas o silo bolsa.

A pesquisa feita pela Esalq Log (USP) e contratada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também apontou que 72,7% dos produtores sem estruturas mostram interesse em construir silos e armazéns em suas propriedades, desde que tenham uma taxa atrativa de juros.

Foram ouvidos 1.065 produtores de todas as regiões do país, com uma margem de erro de 2,5%, considerando o público-alvo de agricultores de lavouras não-permanentes de 1,6 milhão definido pelo IBGE (2017).

O objetivo foi traçar um perfil da armazenagem nas fazendas, com divisão por regiões. Os resultados vão integrar o primeiro diagnóstico da armazenagem agrícola no Brasil que deve ser apresentado pela CNA até o final do ano.

Motivação
Elisângela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA, disse à Globo Rural que a pesquisa foi motivada pela falta de dados e a necessidade de um diagnóstico real do segmento.

“O que se faz hoje é calcular a diferença entre a produção da safra e quanto há de capacidade estática disponível em todo o país para chegar ao déficit. Mas, essa continha não é exata porque temos mais de uma safra e dá para armazenar os grãos duas ou três vezes por ano, diferentemente dos Estados Unidos, que guarda apenas uma safra por ano”.

Segundo ela, enquanto no Brasil uma pequena parte fica armazenada nas fazendas, nos Estados Unidos, um dos principais competidores no mercado internacional de grãos, esse índice chega a 53%.

A falta de estruturas para guardar os grãos é apontada como um dos maiores gargalos da produção brasileira.

Enquanto o volume bate recordes e cresce 10 milhões de toneladas por ano, a capacidade estática de armazenamento aumenta apenas 5 milhões ao ano, segundo dados da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG) da Abimaq, que aponta um déficit atual de 118,5 milhões de toneladas.

Para a CNA, o déficit é ainda maior: 124,9 milhões de toneladas, dez vezes maior que o da safra 2009/10.

“Sem uma estrutura mínima de armazenagem, o produtor não pode fazer um negócio melhor ou esperar preço mais atrativo. Tem que se desfazer rápido ou tem problema: perde a qualidade do grão ou perde a produção”, afirma Elisângela.

Na avaliação da especialista, a produção de grãos do Brasil deve continuar a crescer, mas, com o aumento maior do déficit, a tendência é uma redução da margem de lucro do produtor por ineficiência econômica.

Uma solução para o déficit, segundo a CNA, seria a criação de uma política pública mais eficaz, como um PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) para armazenagem.

“A pesquisa é um primeiro passo porque aponta onde o déficit é maior, quais áreas têm mais potencial de implantação de armazéns pela iniciativa privada que deseja investir. Mas isso depende de programas realmente atrativos”.

Onde o déficit é maior
A falta de armazéns e silos é mais acentuada na região Sul do país, com 76,8% dos produtores, seguida pelo Sudeste (67,4%). Os produtores dos Estados da nova fronteira agrícola, o Matopiba, estão exatamente na média brasileira, com 61%.

No Norte e Centro Oeste, 58,3% e 53,9%, respectivamente, dos produtores responderam não ter nada de armazenagem. O menor percentual foi registrado no Nordeste, com 38,7%.

Também tira margem de lucro do produtor a distância média percorrida entre a fazenda e o armazém contratado para entrega do produto. No levantamento da CNA, a distância média nacional é de 35,1 km.

A situação é mais complicada no Estado do Piauí, onde a média chega a 110 km, e, no Maranhão (100 km). O Rio Grande do Sul possui a menor distância média entre a fazenda e os armazéns terceirizados: 16,1 quilômetros.

Acesso ao crédito
O acesso ao crédito é a chave principal indicada pelos produtores para incentivar a armazenagem dentro da fazenda.

Na maior parte das sugestões dadas pelos produtores, a taxa deveria variar de 2% a 5% ao ano, ter maior prazo de financiamento, de 12 a 20 anos, e maior período de carência do pagamento da amortização (de 3 a 5 anos).

Atualmente, a linha de crédito para armazenagem do Plano Safra, o PCA (Plano para Construção e Ampliação de Armazéns), soma R$ 6,6 bilhões, com taxa de juros de 7% a 8,5%, prazo de até 12 anos anos e carência de 3 anos.

Segundo a técnica da CNA, um dado na questão do crédito surpreendeu muito os analistas: um em cada quatro produtores rurais (ou 25,9%) não conhece as linhas de crédito disponíveis para construção de armazéns.

Por que investir?
Nas perguntas direcionadas ao produtor que tem estrutura de armazenagem (39% no total), a estratégia de comercialização foi o fator considerado mais determinante na decisão do investimento para 74,8% dos entrevistados, seguido pela possibilidade de escolher quando comercializar.

Também foram citados como fatores importantes a redução do custo com a contratação de serviços de armazenagem de terceiros, a redução das perdas no campo, a garantia da qualidade do produto e maiores vantagens logísticas, como redução do tempo de fila e flexibilidade do transporte.

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